Você que achou que em 2016 entramos numa fenda temporal que nos jogou, coletivamente, num filme de terror e suspense digno da Tela Quente, provavelmente deve estar decepcionado com o começo de 2017. De filme do Jason passamos para um documentário das consequências da Segunda Guerra Mundial, onde muros são erguidos e culturas, erradicadas. A impressão que deixaremos para as gerações futuras depende de como e quanto aceitaremos as responsabilidades por nossos atos, pois, como disse Wendell Phillips em 1852, “O custo da liberdade é a vigilância eterna.”
A cada dia que passa novas tecnologias são criadas, e métodos inovadores de como infiltrá-las também. Recentemente foi divulgado um vídeo onde pesquisadores do Instituto Nacional de Informática do Japão conseguiram “retirar” a digital de pessoas, usando apenas uma foto onde o indivíduo em questão aparecia com os dedos expostos. Minority Report (2002) ou Black Mirror (2011), já está ficando difícil decidir qual dos gêneros estão moldando a realidade no mais puro “vida como reflexo da arte.” Para entender melhor a importância e relevância desse novo meio (ilegal) de adquirir (maliciosamente) os traços únicos que asseguram a identidade da pessoa em questão, vamos primeiro entender há quanto tempo e para quais fins as digitais já foram utilizadas.
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História
Os primeiros usos da biometria digital como meio de identificação foram associados à pré-história, mais especificamente na Babilônia. Na China, artesãos imprimiam suas digitais em vasos como forma de associar suas identidades às obras e, consequentemente, à posteridade.
No entanto, antes mesmo de confirmarem o uso real com evidências científicas quanto à legitimidade desse meio de validação, o ato de imprimir a marca da digital já era utilizado como forma de comprometimento. Na colonização inglesa da India, Sir William Herschel, radicado no distrito de Hooghly, fazia com que seus parceiros de negócios imprimissem a digital nos contratos, além de firmá-los. Ele acreditava que tal ato “assustaria todo e qualquer pensamento de repúdio à assinatura”.
Apenas em 1903 as impressões digitais começaram a ser coletadas sistematicamente para formar uma base de dados para facilitar a identificação de criminosos, em Nova York. Passaram-se duas décadas, e a Divisão de Identificação do FBI foi criado pelo Congresso Americano, estabelecendo a prática de uma vez por todas como válida e eficiente na identificação de prisioneiros, como também de foragidos. Em 1946, o FBI já possuía mais de 100 milhões de impressões digitais manualmente registradas em cartões de identificação.
Hoje em dia, esse sistema de identificação é completamente automatizado, cortando custos operacionais e tempo no que diz respeito à apuração dos suspeitos envolvidos em crimes. O Sistema de Identificação Digital Automatizado (AFIS) foi criado no Japão na década de 80, facilitando a vida das autoridades e complicando os planos de malfeitores crônicos. Além da utilização disseminada dessa tecnologia, a biometria também pode ser realizada com outras partes do corpo – todas e quaisquer que possuírem um sistema e estrutura únicos.
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Processo de Cadastramento
No que diz respeito ao cadastramento, análise e validação dos processos biométricos, eles se assemelham por utilizarem a mesma estrutura, independente da parte do corpo utilizada. Isso se deve ao fato desses sistemas serem base de dados acessíveis e de rápida análise, facilitando assim a comprovação da identidade da pessoa em questão. Os processos constam em:
Captura
A primeira etapa é o registro em si do que será utilizado para a comprovação identitária. Ou seja, é o processo de botar a digital no leitor; repetir “casa”, “martelo”, “cachorro”, “praia por favor” ou qualquer outra coisa demandada por aquela tecnologia. O sistema pode pedir pra você repetir esse processo caso a coleta não tenha sido suficientemente fiel ou clara.
Extração
A extração é etapa onde os dados coletados são traduzidos em informações identificáveis pelo sistema utilizado. Cada sistema possui seu próprio método de tradução, variando em termos de confiabilidade e rigor análitico para transformar a imagem ou arquivo em bits inteligíveis pela máquina.
Criação de Padrão
Essa parte é onde a mágica acontece. Após ter traduzido as informações para a linguagem computacional, o próprio sistema cria um padrão único para esse cadastro, de acordo com as características reconhecíveis pelo sistema biométrico. Essa parte é o formato inicial traduzido em formato final para armazenamento; ou seja, é a sintetização da imagem como um todo (no que diz respeito à biometria ocular, por exemplo) em um padrão facilmente acessível pelo sistema, diminuindo o tempo de análise como um todo.
Comparação
Após o registro e a criação do padrão, a comparação é feita para comprovar a eficiência com a qual o sistema cadastrou as informações necessárias. Caso o sistema retorne com falhas de identificação – ou até mesmo falsos positivos devido à baixa qualidade das informações retiradas – o processo é refeito até que a comparação retorne com resultados coerentes e confiáveis.